terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Memórias de Salem...

Salem nasceu dia 22 de julho de 2014, um mês depois ele veio para minha casinha para que eu cuidasse e amasse ele. Muito pequenino e com pêlos eriçados e negros, ríamos sempre muito de Salem, aquela coisinha pequena e que sempre fazia graça. Chegou um pouco desconfiado, grudou em mim igual um carrapato, mas não demorou 24 horas e já estava explorando o local. Nunca antes tive um gatinho, sempre preferi cachorros, mas resolvi adotar quando uma amiga ofereceu, e não me arrependi nenhum dia sequer. Ele era doce, bagunceiro, carente. Me acordava 5:30 da manhã todos os dias, fazia muita raiva. Parecia que tinha um reloginho na barriga, dava a hora, ou miava até acordar todos da casa, ou jogava algo que tinha na cabeceira da minha cama em cima de mim. Uma vez foi uma caneca, meu nariz ficou rachado. Até hoje conto essa história para as pessoas morrendo de rir. Como eu amava as provocações dele. Passava o dia dormindo, quando eu deitava de noite para dormir, parecia que um foguinho ascendia dentro dele. Olho arregalado, todo preto, e orelhinha pra trás. Eu via e já dizia: "Vish, tá com capetinha no corpo, agora que não durmo mesmo". Daí como já sabia que seria impossível dormir, eu levantava e ia brincar. Tinha que correr atrás dele, brincar de esconder pra ele me procurar. Ele adorava quando eu escondia atrás de alguma pilastra, e escondia a cara e mostrava, escondia e mostrava, até ele dar um salto e vir me pegar. Apertava muito aquela barriga gorda gostosa, toda banhudinha. Ele agarrava a minha mão e me arranhava toda. Tenho até hoje cicatrizes no braço dos arranhões que ele me dava quando brincava com ele, eu adorava. As pessoas ficavam abismadas com aquilo, mas eu sempre gostei de ficar com aquelas marquinhas, fazia de propósito. Parecia um canguru quando mexia na sua pancinha, deitado de costas, batia as patinhas traseiras igual a um. Mas eu me sentia mesmo uma mãe quando ele dormia na minha cabeça à noite, ou quando se encaixava na minha cintura. Ele era tão pequenino, foi esticando, ficando cada vez mais engraçadinho. Os pêlos foram ficando bonitos, principalmente os do rabo dele, que ficaram grandes, e todos perguntavam de que raça ele era, de tão bonito que ficou. Na verdade não tinha nenhuma, era meu vira latinha pretinho sem vergonha. Muitas vezes eu ficava o dia inteiro fora de casa, tinha acabado de começar meu mestrado, e sempre quando chegava em casa era aquela carência, miava, miava, esfregava, esfregava, pra logo depois sair correndo, se enfiar em uma caixinha qualquer que tivéssemos dado para ele. Ah, a caixinha! Que felicidade foi a primeira caixinha de papelão que dei pra ele. Como disse, nunca antes tive gatos, demorei a saber o que eles curtiam, descobri que eram muito diferentes de cachorros. Recebi a dica da caixinha uma vez e foi certeiro, como ele adorava! Guardo a fotografia até hoje dele com a primeira caixinha. Mas que gatinho doce era esse meu. Todos que chegavam lá em casa ele ia receber com o maior carinho, fazia com que todos se apaixonassem por ele. Sempre pensei que gatos fossem mais antipáticos, mas o Salem não era. Talvez por sempre ter criado somente cachorros, que eu criei ele diferente também, mais alegre, mais receptivo. No entanto, os momentos de mau-humor tinha também. Nossa, quando era assim, só cristo pra aguentar o Salem. Já com um aninho e pouco, ele mudou muito, gostava de ficar quieto, era mais rabugento, e eu adorava fazer raiva nele. Ele chegou a ficar bem bizarro, com umas manias estranhas, como quando eu acordava no meio da noite e ele estava assentado em frente ao meu rosto me encarando. Que susto eu tomava! Mas era tão bom, porque daí começávamos a brincar. Isso quando eu acordava naturalmente, e não de um sobressalto com um tapa na cara, que era o de costume. Quem tem gato sabe, se o bichano não te acorda de vez em quando com um tapa na cara, aí tem um problema. Salem nunca teve esse problema, a não ser o de excesso dele. Me irritava tanto quando eu custava a dormir e depois ele fazia isso. Muitas vezes era só um pretexto para se enfiar debaixo das minhas cobertas, principalmente nos dias frios. Como eu amava aquela pretinho safado sem vergonha. Só deus sabe, quando hoje recebi a notícia de que ele morreu envenenado, o quanto fiquei triste e com o coração partido. Ele estava há algum tempo na casa da minha mãe, em minha cidade natal. Iria trazer ele de volta quando retornasse das férias, mas não vou ter a oportunidade. Porque alguém, acima da lei, se achou no poder de colocar veneno em alguma comida, para matar esse pobre anjinho, que eu cuidei sempre com muito carinho. Ele foi vítima da maldade humana. E a maldade humana não espera, ela estraga toda felicidade a qualquer custo. Na verdade, a que custo? Meu pretinho bebê se foi, e eu fiquei ainda mais com menos esperanças no ser humano. Se antes o vazio já estava presente aqui dentro, agora ele se alastrou e tomou conta. Um gatinho tão dócil, lindo e brincalhão, que até quem não "curtia" gato se simpatizava. Bem, ele se foi, e não foi por nenhuma doença. Não foi porque estava na hora, e além da tristeza, vem junto a indignação. Hoje o mundo pra mim ficou mais triste e só me restam agora essas memórias dele e muitas outras que eu guardo comigo.

Salem
☼ 22/07/2014
♰ 20/12/2016

Nenhum comentário:

Postar um comentário

comentários